segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

RESENHA | Bipolar (Terri Cheney)

Título no Brasil: Bipolar (2008)
Título Original: Manic (2008)
Autor: Terri Cheney
Tradutor: Júlio de Andrade Filho e Clene Salles
Edição: 1ª
Editora: Larousse do Brasil
Número de Páginas: 208
ISBN: 9788576352846


SINOPSE: Em um momento, Terri Cheney está agachada sob sua mesa em seu escritório em Beverly Hills, paralisada pela depressão; no momento seguinte, está empinando pipas à beira de um penhasco, sob uma violenta tempestade. Em outro momento, ela está tomando uma dose excessiva de analgésicos com tequila, e depois está perdidamente apaixonada. Bonita, extremamente bem-sucedida e brilhante, Cheney – como outros 10 milhões de pessoas, apenas nos Estados Unidos – sofre de transtorno bipolar, um terrível segredo que quase a matou. A autora revela os efeitos causados por essa devastadora doença sobre si e sobre aqueles que a cercavam. Desde as múltiplas tentativas de suicídio, experiências de quase morte, noites na cadeia e exploração sexual, passando por amizades rompidas e pelo tratamento de eletrochoque, Bipolar é o retrato de uma vida vivida em extremos, uma inesquecível viagem numa montanha-russa.
MINHA LEITURA DO LIVRO:
BIPOLAR é um livro intenso. E eu digo isso por toda a ferocidade que a narrativa de Terry nos proporciona em momentos tão conturbados. Diagnosticada com Transtorno Bipolar, Terry passou por tudo, com altos e baixos que iam desde uma muito bem sucedida carreira, até as amarras de uma clínica psiquiátrica.
Você mergulha sem respirador numa história que poderia ser muito bem o roteiro de um filme, não fosse tão chocante. É algo como do Céu ao Inverno em 60 segundos.
Terry Cheney, era uma advogada especializada em entretenimento e propriedade intelectual, muito bem sucedida tendo trabalhado em casos badaladíssimos, com clientes cujo dinheiro sequer poderia um dia ser problema. Mas alcançar tudo isso teve um preço muito alto em sua vida. Ninguém gosta de ter que lidar com um bipolar, um maníaco-depressivo, ou como dizem de forma vulgar e ignorante, com um louco.
As jornadas insanas de trabalho para tentar manter a cabeça ocupada em busca de saídas que não a levassem a mais uma tentativa de suicídio, fizeram dela uma profissional excepcional entre as crises depressivas e de mania. Ela conseguia ludibriar toda uma firma, família, amigos e namorados ao esconder seu estado mental. Enquanto isso, combatia na solidão, nuvens negras que se debruçavam em seus pensamentos.
“Meus amigos eram importantes para mim, mas suas manifestações de simpatia só me faziam sentir ainda mais sozinha. Eles nunca mencionavam as palavras certas e nunca estavam suficientemente próximos.” Pág. 103
Vários episódios me marcaram no decorrer do livro: a forma como ela identificava o início de uma crise maníaca, os pensamentos sombrios durante o período de depressão severa, a lógica ágil e disforme com que ela via algumas situações...e mais milhares de outras situações como o questionamento que ela faz no seguinte trecho:
"‘Mas que direito você tem’, perguntei a mim mesma, ‘de ficar deprimida?’ Eu me lembrei do consultório de meu terapeuta e dos milhares de dólares que gastava durante o ano, reclamando sobre a vida. Lembrei-me do punhado de antidepressivos que engolia a cada manhã: uma daquelas pílulas, sozinha, custava quase 400 dólares por mês. Acrescente a   essa conta o psicofarmacologista que eu consultava a cada seis semanas por 300 dólares a consulta. No total, o custo da minha depressão era inacreditável, mais do que o valor necessário para sustentar várias famílias Masai por um ano inteiro. Que direito eu tinha?" Pág.97
Não existem meias palavras nesse livro e se você se sente ofendido pela honestidade e até pela frieza com que ela descreve os acontecimentos, aconselho que nem comece a leitura.
 Não é apenas um livro, uma fútil autobiografia. É perturbador, cheio de dor e regado de muitos comprimidos, pílulas e idéias confusas de uma pessoa que luta diariamente para conseguir mais um dia no mundo lá fora.
“Mas reconhecer a crise maníaca é uma coisa. E tomar alguma atitude em relação a ela é outra coisa totalmente diferente.” Pág.95
Para quem possui Transtorno Bipolar é uma leitura que beira à clarividência. A pessoa se identifica, se vê naquele espelho quebrado com pequenas partículas ainda refletindo suas imagens. É ao mesmo tempo assustador e reconfortante, pois monstra que milhares de pessoas, diagnosticadas ou não, tem o direito de ter esperança e de ser tratado com dignidade.
“Eu não havia escolhido me tornar maníaco-depressiva. Isso era uma coisa tão fora do meu controle quanto a cor da minha pele ou o local onde eu nascera.” Pág.97
Àqueles que criticam os que sofrem com esse transtorno, também terão uma boa noção do que ocorre na cabeça do bipolar e como repentinas são algumas de suas atitudes. Na minha opinião é um livro indispensável para os familiares e amigos que são próximos de alguém com esse diagnóstico.
“Nada é mais frio e solitário do que o dia seguinte, depois de uma noite de crise maníaca.” Pág.88
O texto pode parecer confuso, no entanto ele dá a exata noção de como o raciocínio do Bipolar pula de uma idéia para outra e se encontra perdido em uma terceira idéia. Tudo isso numa fração de segundos.
“Quando você está numa crise maníaca, sua mente corre tão rápido que consegue visualizar desfechos para qualquer situação.”  Pág.81“As epifanias dos maníaco-depressivos são como as estrelas cadentes: são clarões rápidos e intensos, os quais desaparecem num instante.” Pág.89
Eu adorei o livro. Me emocionei em vários trechos, mas senti um pedaço de esperança, mesmo depois de tantas guerras travadas contra o transtorno. Existem tratamentos pelos quais Terri se submeteu, que eu sequer tinha o conhecimento.
Por toda a avalanche de emoções que esse livro despertou em mim, eu gostaria de agradecer à Editora Larousse por ter enviado de forma cortês um exemplar do livro. Foi uma leitura extremamente útil. Creio que muitos visitantes seriam beneficiados com essas páginas tão marcantes.

“De repente, um puxão na minha camisa me obrigou a olhar para baixo. Uma pequena menina, inteiramente nua e com argolas nas orelhas, estava de pé bem na minha frente. Seu corpo estava completamente coberto por feridas. Mas ainda assim ela sorria, um sorriso tão largo quanto as savanas, tão esplêndido quanto o céu. E toda a lógica do mundo perdeu o sentido. Eu não tinha argumentos para competir com aquele sorriso. A única pergunta — e eu sabia que tinha ido até a África para fazê-la — era: por quê? Por que aquela praga tinha visitado o vilarejo? Por que meu querido David tinha que morrer? E por que, principalmente, por que eu era maníaco-depressiva? Ou, talvez, a verdadeira questão seria: por que eu não era digna de viver em sanidade?” Pág. 97

1 comentários:

Aninha Frazão disse...

Nossa, nunca tinha ouvido falar desse livro mas gostei bastante da história e a resenha ficou ótima, realmente explicativa.
Fiquei com vtd de ler o livro, parece que mexe bastante com as emoções e nos ajuda a dar valor ao que nós temos!
Mais um para a listinha de desejados hein!

beijos,
Aninha
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