quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

AUTOR EM FOCO | Entrevista com Nanuka Andrade


Na última segunda, aproveitando um tempo extra entre os desenhos e as páginas de seu novo trabalho, conversei com Nanuka Andrade, autor do livro “Camundo – O Desenho e a Sombra”. Nasceu em Sampa, foi para o Rio aonde morou até os 12 anos, se mudou para Matão (interior de SP), para se radicar só então e afinal em Campinas (cidade que possui uma antiga réplica exata da Caravela Anunciação, mas essa é outra história). É formado em Publicidade e Propaganda, onde atua em projetos gráficos e ilustrações para livros.

Conversando Com Um Autor
(Facebook, 12 de dezembro de 2011)

O Mezanino: Vamos conversar sobre você e seu livro. Esse filho que ficou na gaveta e de repente saiu para cair nas mãos de centenas de fãs.

Nanuka Andrade: A postos!

O Mezanino: O Camundo que nós temos hoje em mãos, é muito diferente do que você imaginou quando teve o primeiro rompante para escrever ou ele se manteve fiel às idéias iniciais?

Nanuka Andrade: Inicialmente, o personagem era outro. A história que envolvia um indivíduo que pudesse desenhar o futuro se passava num ambiente universitário, nos dias atuais. Era para ser uma novela gráfica. Também neste mesmo período, estava rascunhando uma história envolvendo um menino que investigava casos envolvendo fantasmas, chamado Camundo e achei que poderia mesclar as duas idéias.

O Mezanino: O que nós encontramos de você em Camundo?

Nanuka Andrade: Bom, é natural que as personagens tenham traços da personalidade do autor, ou da visão que se tem sobre pessoas reais, que façam parte do seu convívio. No caso do Camundo, o que mais se aproxima de mim, é a habilidade de desenhar.

O Mezanino: O fato da história se passar numa outra época te deu a opção de interagir com a história real. Camundo com seu dom acaba tendo uma responsabilidade enorme. Como você vê isso?

Nanuka Andrade: Olha, o fato da história se passar em outra época, no meu modo de ver, ajudou em vários aspectos. Um deles foi a forma com que as personagens encararam situações, que hoje em dia, seriam facilmente resolvidas. Como a falta de comunicação à distância, promovendo desencontros e outros vieses, que ajudam no desenrolar da história. As descobertas científicas, e a liberdade do pós-guerra ajudaram também a moldar o caráter das personagens. Sob esta perspectiva, o fato do Camundo poder alterar eventos futuros, acabou se tornando em um atrativo a mais. Afinal, o leitor sabe que certos eventos históricos aconteceram, mesmo a despeito das mudanças provocadas por Camundo.

O Mezanino: Você se sente como Camundo ao influenciar uma nova geração de leitores?

Nanuka Andrade: Sobre a possibilidade do Camundo influenciar uma nova geração de leitores, acredito que toda obra, que tenha carisma e uma boa história, seja capaz disso. Trazer bons valores como o amor, a amizade e, sobretudo, o conhecimento, tem grandes chances de se manter viva por muitos e muitos anos.

O Mezanino: E isso é muito importante realmente. Nós sabemos que você já tem Camundo em novas aventuras. Isso pode ser o prenúncio de uma série ou você pretende finalizar com o próximo livro?

Nanuka Andrade: Tudo vai depender da aceitação destes primeiros dois livros. Mas a princípio serão três livros e uma história em quadrinhos, com histórias independentes.

O Mezanino: Então existe muito o que se falar no mundo de Camundo?

Nanuka Andrade: Ah, sim. Pretendo contar algumas histórias, que ocorrem na fase adulta do Camundo.

O Mezanino: Você desenha a quanto tempo?

Nanuka Andrade: Desenho desde muito pequeno. Antes mesmo de me alfabetizar.

O Mezanino: Que tipo de material você mais gosta pra fazer seus desenhos?

Nanuka Andrade: A técnica de desenho que mais gosto, dentro do acadêmico, é o grafite. Como trabalho com desenho publicitário, é mais frequente o uso de outros métodos. E, neste caso, trabalho por meios digitais, para agilizar o processo. Mas, mesmo com toda a tecnologia, não dispenso, na maioria dos casos, o uso do bom lápis e papel.

O Mezanino: Qual o desenho que você mais apreciou criar?

Nanuka Andrade: Costumo dizer que é sempre aquele que estou fazendo no momento. Por outro lado, sempre acho que está ruim, e que preciso fazer outro melhor!
(risos)

O Mezanino: Você é budista certo?

Nanuka Andrade:  Sim. Sou budista.

O Mezanino: A filosofia de vida que vem do budismo influencia os teus trabalhos?

Nanuka Andrade: Ah, digamos que sim. Na forma como vejo o mundo, e consequentemente como as personagens também o veem. A lei de causalidade está muito presente na forma como os desenhos acontecem.

O Mezanino: Uma pergunta prática: nós já sabemos que você consegue desenhar em qualquer lugar (vide a experiência que tivemos com você na Bienal do Livro/2011 no Rio), mas você consegue escrever em qualquer lugar ou precisa de um ambiente específico?

Nanuka Andrade: (risos) Não consigo, não! Preciso de todo um ritual. Silêncio, trancado em algum cômodo da casa. Só assim consigo escutar a voz do narrador, mesmo sendo a minha própria voz.

O Mezanino: (risos) Com a necessidade de tanto silêncio, como fica o assédio dos fãs nas redes sociais? Num primeiro momento temos um rapaz que trabalha tranquilamente em Campinas e no momento seguinte é o autor badalado na Bienal do Rio, com fila para autógrafo e fotos por toda a internet! Como tem sido isso? Esses mais de 1000 olhares te seguindo, só no twitter?

Nanuka Andrade: Olha, tudo aconteceu muito rápido. Embora estivesse acalentando o desejo de publicar há anos, foi um susto. Entre o livro ser lançado e a Bienal, tive a impressão de que o hiato não durou mais que dois meses. De repente, lia a opinião das pessoas sobre o manuscrito, vagando pela internet, e começava a criar a consciência de que, daquele momento em diante, o livro não me pertenceria mais. Agora, a responsabilidade é ainda maior, porque existe uma expectativa para os próximos. Toda esta visibilidade eu devo ao empenho da Fabiana Andrade e da Editora Underworld na divulgação dos livros.

O Mezanino: Você falou do seu manuscrito e das pessoas terem acesso à ele anteriormente..Como você se posiciona à respeito da era digital e da informação gratuita, que acaba quebrando os chamados direitos autorais? Como é isso? Você passou por alguma situação em que seu material foi divulgado e alcançou proporções que você não imaginava?

Nanuka Andrade: Olha, todas as experiências que tive sobre isso, foram as mais tranquilas possíveis (talvez porque eu não seja, ou não era tão conhecido assim). Tive uma surpresa agradável, certa vez. Um conhecido, que vivia no Japão, acompanhava as minhas histórias, e pediu permissão para usar alguns textos em sala de aula. Tratava-se de um universidade, composta por japoneses que aprendiam a língua Portuguesa. Dias depois, recebi vários eMails (em português) destes alunos dizendo que tinham apreciado a leitura. Neste caso, a divulgação por meios digitais foram para fins que me honraram imensamente.
Sou a favor do acesso ao conhecimento, desde que não se infrinja os direitos autorais.

O Mezanino: Queria agora fazer uma pequena série de perguntas rápidas com respostas vindas num lampejo. Se importa?

Nanuka Andrade: Fique à vontade!

O Mezanino: O que te vem à mente quando a palavra é Educação?

Nanuka Andrade: Respeito. Direito ao conhecimento, etc.

O Mezanino: Analfabetismo político e social?

Nanuka Andrade: Retrocesso.

O Mezanino: Censura?

Nanuka Andrade: Prisão de idéias.

O Mezanino: Um filme que você queria ser a personagem principal?

Nanuka Andrade: O Enigma da Pirâmide!

O Mezanino: Ser escritor no Brasil?

Nanuka Andrade: É lutar em prol do prestígio de obras nacionais.

O Mezanino: Ser Camundo na vida real?

Nanuka Andrade: É acreditar que tudo é mutável.

O Mezanino:  Última pergunta, inspirada no ‘Provocações’ do Antônio Abujamra: o que você gostaria que te fosse perguntado, mas até hoje ninguém te perguntou?

Nanuka Andrade: Se vale uma verdade bem dita, ou uma mentira mal dita. (brincadeira!)

O Mezanino: (risos) E qual seria a sua resposta para esta pergunta?

Nanuka Andrade: A verdade acima de tudo! Mas a pergunta real seria 'O que você faria para acabar com a miséria do mundo?'

O Mezanino: Você tem uma resposta para sua pergunta?

Nanuka Andrade: Teria sim. Resumiria em "levantar-me só".

O Mezanino: Bem filosófico! E talvez mais simples do que parece ser.

Nanuka Andrade: é, um único homem pode mudar o destino de uma nação inteira.

O Mezanino: E você está trabalhando grão por grão para isso, a meu ver. Sr. Nanuka Andrade eu agradeço pelo seu tempo espero que os próximos livros cheguem rapidamente no mercado, que mais e mais pessoas conheçam Camundo e o seu trabalho.

Nanuka Andrade: Eu que devo agradecer! Se depender do seu carinho e de todos os que me proporcionam oportunidades tão singulares como esta, tenho certeza que sim!
Obrigado!





Se você gostou da entrevista ou quer saber mais alguma coisa, deixe um comentário! Não deixe de conferir o site da série Camundo. E siga também o autor no twitter @nanukAndrade.

2 comentários:

Kyanja Lee disse...

Bem,

Primeiro, gostaria de dizer que amei esse sofá vermelho! (risos)

Depois, que achei a entrevista super bem-conduzida, relevante, deu uma ideia abrangente sobre o autor e artista(que se mostra bastante humano, nada superficial).

Se todas as entrevistas ficarem nesse patamar, terei prazer em fazer mais visitas ao seu blog!

Parabéns!

Meu e-mail: kyanjalee@gmail.com
Twitter: @kyanja

Rafael disse...

Ê, Nanuka e Ana! Nem preciso dizer que adorei a entrevista (essa frase é sempre contraditória, reparou?).
Sabemos muito bem das dificuldades, mas sabemos também das recompensas que são maiores.

Abraços,
@rafaschiabel
http://lembradaquelahistoria.blogspot.com/

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